E seis e meia da matina o capitalismo me espanca, me dá na cara, me chama de flácida, me expulsa da cama, me acorda aos berros por uma musiquinha tunch, me senta à mesa, me faz engolir pão com gosto de fermento e três compridos, que vistos de cima, ao lado da minha caneca de café com leite, até que formam uma bela fotografia, o retrato da idade, na moldura da má alimentação. E me toca pra academia, o único lugar onde mexo as pernas, e me mostra um déficit de saúde, e não se acusa, e não se chama de culpado, e nem mesmo se compadece. E não se cansa, me empurra pro trabalho, remexendo meu cérebro mais rápido que os ponteiros do relógio e alfinetando minha bursite com um sarcasmo que só ele tem. Meio-dia ele me corre pra casa, me obriga a tomar banho passando de bicicleta por baixo do chuveiro, me deixa em situação ridícula, e eu quero atropelar, e eu quero buzinar, e eu queria mastigar! Me hipnotiza e quando vejo já são três da tarde, e eu ainda nem terminei o trabalho de banco, abre a porta no solavanco e me assusta, me atiça, e eu vou gritar, e eu vou fugir, e a única escapatória é a faculdade, meu Deus, PIEDADE! E me engole, e me suga, mais rápido que eu sugo esse refrigerante, nesse drive thru de gente bacana e moderna que logo vai ficar doente. E eu dramatizo pra chamar a atenção, e ridicularizo aumentando a situação.
♪ Fireball – Deep Purple
♪ Fireball – Deep Purple