sábado, 24 de maio de 2008

Crocodilo Tic Tac em versão hi-tech



E seis e meia da matina o capitalismo me espanca, me dá na cara, me chama de flácida, me expulsa da cama, me acorda aos berros por uma musiquinha tunch, me senta à mesa, me faz engolir pão com gosto de fermento e três compridos, que vistos de cima, ao lado da minha caneca de café com leite, até que formam uma bela fotografia, o retrato da idade, na moldura da má alimentação. E me toca pra academia, o único lugar onde mexo as pernas, e me mostra um déficit de saúde, e não se acusa, e não se chama de culpado, e nem mesmo se compadece. E não se cansa, me empurra pro trabalho, remexendo meu cérebro mais rápido que os ponteiros do relógio e alfinetando minha bursite com um sarcasmo que só ele tem. Meio-dia ele me corre pra casa, me obriga a tomar banho passando de bicicleta por baixo do chuveiro, me deixa em situação ridícula, e eu quero atropelar, e eu quero buzinar, e eu queria mastigar! Me hipnotiza e quando vejo já são três da tarde, e eu ainda nem terminei o trabalho de banco, abre a porta no solavanco e me assusta, me atiça, e eu vou gritar, e eu vou fugir, e a única escapatória é a faculdade, meu Deus, PIEDADE! E me engole, e me suga, mais rápido que eu sugo esse refrigerante, nesse drive thru de gente bacana e moderna que logo vai ficar doente. E eu dramatizo pra chamar a atenção, e ridicularizo aumentando a situação.

♪ Fireball – Deep Purple

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Substituir? Jamais!



“Quando era pequena, minha mãe disse que eu sempre chegava atrasada à escola. Um dia ela me seguiu para saber o motivo. Eu ficava vendo as castanhas caírem das árvores e rolarem na calçada, ou as formigas atravessarem a rua, ou a sombra de uma folha num tronco da árvore. Coisas pequenas. Acho que com a gente é igual. Vejo pequenos detalhes de cada coisa que me comovem e sinto saudades deles depois. Não se pode substituir ninguém porque todo mundo é uma soma de pequenos e belos detalhes.”

Um trecho do filme "Antes do Pôr-do-sol".

terça-feira, 6 de maio de 2008

Fazendo figuração na vida real



Nem linda, nem inteligente, muito menos culta, porém feliz. Sinto-me bem em papel secundário, me agrada passar despercebida e, por exemplo, poder ficar olhando pela janela, sem participar de uma conversa interessante, onde, por meio de gritos ou palavreado nobre, poderia impor minhas idéias aos outros e assim chamar a atenção. Atenção é o que ando dispensando. Canso dessa competição!
Não recolhi meu tapete de “bem-vindo” da porta de entrada aos amigos, só não espanei e nem remendei aquele cantinho desfiado. Aceito aproximações, mas é assim, passando por um tapete escabelado que te recebo. Houve um tempo, de esforços inúteis, que eu quis ser mais legal, ainda bem que passou. Foi-se embora e não me deixou saudade.
Ando muito crítica, mas só em relação a mim, isso explica a suposta falta de imaginação. As idéias, desses últimos tempos em branco, eu guardei em uma pasta chamada rascunhos, que beirou a lixeira várias vezes, não parei de pensar, elogiar, criticar, descobrir, sentir por nenhum segundo se quer, a calmaria externa é aparente, embora a confusão de idéias minhas me deixe em paz, em paz comigo, isso que importa.
Apaguei os caminhos para me encontrar e isso não é um lamento, é uma justificativa para quem me quer bem e sente saudade, que é o maior sinônimo de bem-querer, na minha opinião, e não pense que é um tormento ou um tédio imenso, pelo contrário, novos prazeres me seqüestraram e combinam com que penso.
Vou deixar um trecho de uma carta do Caio Fernando Abreu aqui, é mais ou menos assim que me sinto:

“Enfim, tenho agradecido por estar vivo e ter andado por todos lugares onde andei e ter vivido tudo o que vivi e ser exatamente como sou”.