quarta-feira, 16 de março de 2011

Acordar às 5:30 da matina não foi nada, perto do que viria...

Banho bom, achar uma roupa, nem tão bom assim, café não podia, era jejum o esquema, e olhem que não foi promessa, até porque jamais farei promessas desse tipo, não vejo propósito nenhum em deixar de comer para alcançar alguma graça. Que tal fazer uma bondadezinha por essa permuta, hein pedintes?!
Lá fui eu rumo a Santa Casa de Misericórdia de Pelotas, estacionamento farto e eu quase tendo um infarto de tanta fome (sim, fome da infarto). Esperar uma hora para fazer exame de sangue é uma coisa que só aumenta minha tensão e me remete a um momento 6 anos de idade, quase em posição fetal na sala de espera. Tenho medo daquele furinho e daí?
A simpatia da enfermeira foi pelo ralo da bondade quando ela me disse: - Rápido, coloca rápido essa manga da blusa para baixo, porque vai começar a JORRAR sangue. A vontade de chorar me veio de súbito e eu só pensava na minha mãe e no meu café que eu não tinha tomado, e se eu fosse uma torneira de sangue no meio de um ambulatório, com a fome que eu tava, o desmaio era certo.
Bloqueei a paranóia e segui.
Subir MUITAS escadas (dois lances), perder TODO aquele sangue (que ficou na amostra) e ainda com o agravante da fome (essa sim, tava big), me fez pensar que eu tava no “No Limite”.
Quando se está morrendo de fome a pior coisa do mundo que podem te dar para ingerir é bário! Sabem o que é isso? Aquela gosma branca, mix de iogurte, maisena, requeijão talhado, farinha de tapioca e bário, claro! Por que a medicina avança e não mudam o método de Raio X?
- Toma, só engole quando eu mandar.
- Aham.
- Ta moça, coloca na boca!
- Calma ai, to pensando, que saco!
- Pensando no que?
- Tu não era pra ta lá atrás da parede? Olha a radiação, olha a radiação.
- Sim, eu vou pra lá depois que tu colocar isso na boca.
- Aham, e eu vou ter que ficar com isso na boca esperando tu andar até lá?
- VAI!

Vontade de chorar de novo, que saco, como a gente é despreparado para situações em hospitais.

Tomei né, fazer o que.

- Ó moça, espera ali na salinha que eu vou ver se deu certo.
- E se não deu?
- Tem que fazer de novo.
- Aham, mas daí vamos fazer um brinde, cada um toma uma tacinha dessas, em comemoração :D
(silêncio)

- Deu, pode ir embora... Aaaaa moça...

(coooooooooooooooooooooooorreeeeeeeeeeeee)

- Espera ai, teu um banheiro aqui, se tu quiseres limpar a boca...

Que limpar a boca que nada, eu quero é me mandar.
Último exame, ecocardiograma, tri massa, se desligassem o ar condicionado o aparelho do exame também se desligava. Todo mundo de blusão na sala e eu só de calça jeans com uma enfermeira sem noção que não parava de abrir a porta. Peitcheeeeeeeeeeenho!
Parece uma ultrasonografia, só que do coraçãozinho, aaaaaaaaaai que lindo! Lindo se eu não tivesse com a fome que eu tava, acho até que se escutavam os roncos da minha barriga no tal aparelho, aquele gel gosma gelado espalhado por tudo (pensem o que quiserem, porque eu também pensei hauheauheuahe)
No fim do massacre entendi porque o enfermeiro queria tanto que eu passasse no banheiro antes de sair do Raio X. Desfilei por todo hospital com um bigode branco, linda, linda!

terça-feira, 15 de março de 2011

Ai ai

Ser brotinho não é viver em um píncaro azulado: é muito mais! Ser brotinho é sorrir bastante dos homens e rir interminavelmente das mulheres, rir como se o ridículo, visível ou invisível, provocasse uma tosse de riso irresistível.

Ser brotinho é não usar pintura alguma, às vezes, e ficar de cara lambida, os cabelos desarrumados como se ventasse forte, o corpo todo apagado dentro de um vestido tão de propósito sem graça, mas lançando fogo pelos olhos. Ser brotinho é lançar fogo pelos olhos.

É viver a tarde inteira, em uma atitude esquemática, a contemplar o teto, só para poder contar depois que ficou a tarde inteira olhando para cima, sem pensar em nada. É passar um dia todo descalça no apartamento da amiga comendo comida de lata e cortar o dedo. Ser brotinho é ainda possuir vitrola própria e perambular pelas ruas do bairro com um ar sonso-vagaroso, abraçada a uma porção de elepês coloridos. É dizer a palavra feia precisamente no instante em que essa palavra se faz imprescindível e tão inteligente e natural. É também falar legal e bárbaro com um timbre tão por cima das vãs agitações humanas, uma inflexão tão certa de que tudo neste mundo passa depressa e não tem a menor importância.

Ser brotinho é poder usar óculos como se fosse enfeite, como um adjetivo para o rosto e para o espírito. É esvaziar o sentido das coisas que transbordam de sentido, mas é também dar sentido de repente ao vácuo absoluto. É aguardar com paciência e frieza o momento exato de vingar-se da má amiga. É ter a bolsa cheia de pedacinhos de papel, recados que os anacolutos tornam misteriosos, anotações criptográficas sobre o tributo da natureza feminina, uma cédula de dois cruzeiros com uma sentença hermética escrita a batom, toda uma biografia esparsa que pode ser atirada de súbito ao vento que passa. Ser brotinho é a inclinação do momento.

É telefonar muito, estendida no chão. É querer ser rapaz de vez em quando só para vaguear sozinha de madrugada pelas ruas da cidade. Achar muito bonito um homem muito feio; achar tão simpática uma senhora tão antipática. É fumar quase um maço de cigarros na sacada do apartamento, pensando coisas brancas, pretas, vermelhas, amarelas.

Ser brotinho é comparar o amigo do pai a um pincel de barba, e a gente vai ver está certo: o amigo do pai parece um pincel de barba. É sentir uma vontade doida de tomar banho de mar de noite e sem roupa, completamente. É ficar eufórica à vista de uma cascata. Falar inglês sem saber verbos irregulares. É ter comprado na feira um vestidinho gozado e bacanérrimo.

É ainda ser brotinho chegar em casa ensopada de chuva, úmida camélia, e dizer para a mãe que veio andando devagar para molhar-se mais. É ter saído um dia com uma rosa vermelha na mão, e todo mundo pensou com piedade que ela era uma louca varrida. É ir sempre ao cinema mas com um jeito de quem não espera mais nada desta vida. É ter uma vez bebido dois gins, quatro uísques, cinco taças de champanha e uma de cinzano sem sentir nada, mas ter outra vez bebido só um cálice de vinho do Porto e ter dado um vexame modelo grande. É o dom de falar sobre futebol e política como se o presente fosse passado, e vice-versa.

Ser brotinho é atravessar de ponta a ponta o salão da festa com uma indiferença mortal pelas mulheres presentes e ausentes. Ter estudado ballet e desistido, apesar de tantos telefonemas de Madame Saint-Quentin. Ter trazido para casa um gatinho magro que miava de fome e ter aberto uma lata de salmão para o coitado. Mas o bichinho comeu o salmão e morreu. É ficar pasmada no escuro da varanda sem contar para ninguém a miserável traição. Amanhecer chorando, anoitecer dançando. É manter o ritmo na melodia dissonante. Usar o mais caro perfume de blusa grossa e blue-jeans. Ter horror de gente morta, ladrão dentro de casa, fantasmas e baratas. Ter compaixão de um só mendigo entre todos os outros mendigos da Terra. Permanecer apaixonada a eternidade de um mês por um violinista estrangeiro de quinta ordem. Eventualmente, ser brotinho é como se não fosse, sentindo-se quase a cair do galho, de tão amadurecida em todo o seu ser. É fazer marcação cerrada sobre a presunção incomensurável dos homens. Tomar uma pose, ora de soneto moderno, ora de minueto, sem que se dissipe a unidade essencial. É policiar parentes, amigos, mestres e mestras com um ar songamonga de quem nada vê, nada ouve, nada fala.

Ser brotinho é adorar. Adorar o impossível. Ser brotinho é detestar. Detestar o possível. É acordar ao meio-dia com uma cara horrível, comer somente e lentamente uma fruta meio verde, e ficar de pijama telefonando até a hora do jantar, e não jantar, e ir devorar um sanduíche americano na esquina, tão estranha é a vida sobre a Terra.

Paulo Mendes Campos

sexta-feira, 11 de março de 2011

Ajudando

Aos outros os maiores recompensados somos nós mesmos.
São Lourenço do Sul e Turuçu precisam de ajuda, de qualquer tipo, além de doações de alimentos, roupas, produtos de higiene, limpeza, primeiros-socorros e principalmente água, podemos doar solidariedade e disposição, ajudando na limpeza e reconstrução da cidade.

Se todo mundo que navega nesse imenso virtual chamado internet tivesse condições de navegar por São Lourenço e apreciar a tranqüilidade e beleza do local trocaria facinho essas tantas horas dedicadas a tweets e retweets que não interessam e nem mudam a vida de ninguém por umas poucas horinhas de ajuda, mais do que ajudar aos outros, é ajudar a si mesmo, no resgate do que quer dizer esse tanto de amor chamado ser humano.

Quando alguém descobrir uma rota de Pelotas até São Lourenço, por onde passe um carro 1.0, por favor, me avise.