terça-feira, 18 de agosto de 2009

Diário de uma moribunda

Segunda-feira, 10 de agosto de 2009 (pré-pré-moribundismo)

Diazinho normal, banho, café e trabalho, atrasado, diga-se de passagem, mas tudo está melhorando, agora tenho uma ajudante na minha sala, o nome dela, adivinhem... Magda! Isso mesmo. Duas Magdas dentro de uma mesma sala eu só tinha visto quando fiz o concurso do SANEP.
Almoço e mais trabalho na tarde, para quebrar essa mesmice, do nada, me deu febre. Como a família do seu Ronaldo, meu chefe, ta com a tal “gripe-pânico” e ele continua trabalhando, bastou eu pedir um termômetro para ver o pessoal se afastar de mim em velocidade, o cheiro de álcool emanava de qualquer pessoa e meu outro chefe, Gustavo, me mandou para casa, mas eu, como toda burra que se preste, preferi terminar o que tava fazendo.
Era só uma febrinha de nada, 38°, febre de nenê, quer saber, eu vou é dormir!


Terça-feira, 11 de agosto de 2009 (pré-moribundismo)

Acordei sem febre, então... Volte ao trabalho!
Não aconteceu absolutamente nada de anormal nesse dia.


Quarta-feira, 12 de agosto de 2009 (o-ou!)

No meio dos meus sonhos nefastos entrou o barulho do despertador, quando fui esticar o braço para desligar senti alguma coisa estranha nas minhas costas, infelizmente não era uma presença (hauehauehauheu), era uma fisgada e a mardita caminhava, vinha até a frente e voltava, levantei lentamente e comecei a usar todo meu conhecimento na área da medicina. A primeira idéia de qualquer pessoa que não faz idéia do que tem é ir ao banheiro né? Então lá fui eu. Não aconteceu nada! Já viram uma pessoa levantar e não fazer xixi? Nem eu! Era tanta dor, por tantos lados que eu não sabia para quem recorrer, liguei para a farmácia e pedi um luftal (caraaaaaaaaaaaca eu deveria ter feito medicina cara!), demorou tanto que tive que apelar para mãe. Quando a mãe abriu os olhos e me viu naquela posição, costas na horizontal e pernas na vertical, ela se apavorou correu e me fez um chá, nisso chegou o luftal. Agora calculem: Todo meu xixi da noite, mais uma caneca de chá, mais um copo com luftal diluído em água, calcularam... Pois é foi assim que eu descobri que tenho uma perna oca né, porque isso tudo continuava dentro de mim.
Em 40 minutos eu já mal me mexia, chorava e rezava, porque a mãe insistia em me levar no pronto socorro e eu só pensava nos índices da gripe aqui em Pelotas. No fim das contas, acabei em um pronto socorro que tem que pagar, no caminho, cada buraco era um grito e um esguicho de lágrimas. Quando o carro parou, começou o “show do passa mal em público”. Já comecei a vomitar de dor (eca!) e o pobre enfermeiro me levou na cadeira de rodas em posição fetal, abraçada na perna direita, a qual eu não deixava ninguém se aproximar mais que 30 cm. Para me colocar na cama eu quis morder a enfermeira, a perna direita não esticava mais.
Nisso chega o médico, do alto de seus 100 anos, dizendo que eu tava muito nervosa.
Ai foi injeção na bunda, soro na veia, 6 agulhadas no tal do soro e milagrosamente, em 15 minutos, eu não gritava mais e já conseguia esticar a perna.
É uma crise renal, disse o Papai-Noel. Tu tens uma pedrinha no rim, ela se mexeu e agora ela vai para a bexiga e daí acabou a dor. Passa lá no raioX. Lá fui eu, com aparência da noiva cadáver ranhenta.
Saiu a radiografia e lá estava ela. Bem sentada!
Saí de lá com a promessa que era só tomar um remédio por 3 dias e se por um azar, mas muito azar, acontecesse outra crise, que eu fizesse uma injeção.
Beleza, muito obrigada, tchau!


Quinta-feira, 13 de agosto de 2009 (ainda bem que esse dia passou)

Já eram 4 agulhadas na bunda e a tal dor vinha e voltava, comer nem pensar, foi um dia vomitado, tão horrível, mas tão horrível que eu prefiro não contar e esquecer que existiu.


Sexta-feira, 14 de agosto de 2009 (bateu o desespero)

Imaginem uma pessoa na capa do Batman, que não comia há 2 dias, não ficava em pé, tomava banho sentada, não conseguia mais se movimentar na cama e com a bunda toda furada de injeção. Pois essa pessoa era eu, infelizmente. A mãe me levou no tal pronto socorro de novo e meu anjo da guarda despertou do sono de Bela Adormecida que se encontrava. Felizmente o médico era outro, mudou toda minha medicação, me deu a estranha notícia que minha pedra era no intestino e não no rim (hahahahaha, escolher melhor o feijão em casa) e que meu problema era apêndice e não rim, por isso o remédio não fazia efeito.
Voltei para casa de remédio novo, mas demorou um pouco para fazer efeito, então na quinta injeção de buscopan eu já tinha perdido o medo, a vergonha e a dignidade.
Fiquei pensando o que fazer com todo aquele enxoval para o nascimento da minha pedrinha, que eu já esperava há 2 dias pela bonita e nada, já pensava no chá de bebe, que seria chá de quebra-pedra, lógico, enfim. A parte da pedra eu não entendi até agora.


Sábado-feira, 15 de agosto de 2009 (o alívio)

Os remédios começaram realmente a fazer efeito, mas eu tinha que fazer uns exames, o fim de semana complica essas coisas, não é todo laboratório que abre e os que abrem não tem todos os exames. Consegui um que fazia exame de sangue, mas a ultra-sonografia não. Beleza, lá fui eu, ainda andando naquela postura tão sexy, coluna na horizontal e pernas na vertical e sem conseguir levantar a perna direita.
Agora preciso muito da imaginação de vocês para descrever a minha entrada no laboratório. Imaginem uma porta de vidro, com dois degraus antes dela, do lado de dentro uma senhora sentada olhando para um computador, do lado de fora eu, caminhando daquele jeito e sem conseguir levantar a perna. Quando eu apareci do outro lado da porta a senhora me olhou, eu cheguei perto do degrau e segurei a perna, ela me olhou, percebi que precisava das duas mão pra levantar a perna, ela me olhou, consegui subir o primeiro degrau, ela me olhou, a porta fechada, as duas mãos ocupadas na perna, como vou empurrar essa porta?! Ela me olhou. Entrei segurando a perna com as duas mãos e empurrando a porta com a cabeça. ELA NÃO ME AJUDOU!!!!!!!!!!!!!!
E ainda teve a cara de pau de me perguntar o que eu tinha? Eu respondi né: RAIVA! Mas fora isso, preciso de um exame de sangue para ver se tenho uma pedra no rim ou uma apendicite!
Na saída do laboratório, que é na rua do calçadão de Pelotas, movimentada coisa pouca, me dirigindo para o carro que tinha ficado estacionado na rua dobrando, uma senhora me pergunta: O que tu ta procurando minha filha? Pensei em responder: A minha sorte e a minha saúde, que me abandonaram, mas me contive e tive que explicar o que se passava.
Durante o dia fui melhorando muito e a noite nem precisei mais de injeção.


Domingão, 16 de agosto de 2009 (ele voltou)

Calma gente, não foi o azar, foi meu melhor amigo, FILIPE VOLTOOOOOOOU!
Consegui até ir na rodoviária buscar ele, eu já era outra pessoa, que andava quase “tesa” e só chamava atenção pela aparência noiva cadáver, que ainda não se foi.


Agora tá tudo certinho, sexta termino o tratamento e volto no médico para esclarecer se é menino ou menina minha pedra/pedregulho, se meu apêndice ta curado, se isso vai acontecer novamente, onde mesmo é o lugar da minha pedra (para o caso de alguém ter vontade de mandar correspondência né), se preciso da ultra-sonografia, se procuro um pai de santo, se acredito em vocês que essa história de levar uma paulada na cabeça de 40 em 40 dias é coisa da minha imaginação e que eu sou pessimista, e que se pensar em coisas boas elas aparecem... Fala sério! Se fosse assim o mecânico da novela das 7 tava materializado aqui na minha frente! Hauehauehauheauheauheuahe

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Into the wild

(para quem tá muito a fim de ler hoje)

Essa vida é muito louca. É quando esse bando de coincidências me aparece fazendo ciranda em volta da minha cabeça que eu tenho mais certeza dessa loucura.
Peguei esse filme ai que é título do post, peguei, soltei na prateleira, fui no balcão, perguntei: Já devolveram Frost Nixon? Posso esperar mais um pouco né? É entrega pra hoje? Ainda ta na minha reserva né?......................... Moço tu acha que vão devolver hoje? Mas eu já to esperando desde ontem! Ta vou pegar outro...
Voltei na prateleira e peguei Into the wild. Assistam!
Vou deixar um “videozinhozão” que achei no youtube para quem se interessar, têm vários, mas esse é longo, a música até repete e tem a cena dos pássaros voando que eu adorei.
Na tradução o nome ficou “Na natureza selvagem”, mas não é um documentário de tubarão comendo peixinhos, nem tigres que correm em uma velocidade de 87,6 Km/h e devoram um veado em 30 segundos, no sentido apenas de matar a fome para as mentes sujas que já dobraram o sentido da minha frase.
É uma história incrível, de um cara que eu queria muito ter conhecido, mas veio se apresentar pra mim em forma de personagem, e bem agora, quando o que eu mais penso é na fábula da formiga e da cigarra. Todo mundo conhece né? Acho que deve ser leitura obrigatória na segunda série. A história das formigas que passam a vida trabalhando e a cigarra que passa o verão cantando e no inverno não tem comida, nem toca quentinha, nem o escambau. Na verdade a cigarra é uma boa vida, mas no bom sentido, ela aproveita do jeito que dá, até onde dá e quando a gente é pequeno nos ensinam a não ser cigarra para o futuro ser quentinho. Quentinho, hunf! Show de humor!
Eu sempre fui formiga, todo mundo que convive comigo me diz, fala desse meu jeito de querer fazer tudo certinho para no final sair tudo 100%. Pena que a vida não é uma fábula!
Não, não estou me lamentando, embora o ponto de exclamação me desminta, mas errar é parte, parte de aprender e de conhecer, a si e aos outros.
Não sei, esse filme foi lá me sacudir, arrancou a “tampa” dessa ferida que eu camuflo, essa ai chamada conformismo. Bonito nome né? Mas coça que é uma loucura, à noite então, quando o pensamento não ta distraído pelas obrigações, nooooooooossa! Nessa hora que eu penso aonde esse meu jeito vai me levar? Uma aposentadoria segura? Jura! A gente nem sabe onde se segura nessa vida dura! (esqueci de dizer que quando tiver 72 anos vou ser repentista, já to treinando, é bico pra ajudar na aposentadoria).
Ontem tomei meia garrafa de vinho, jurando que ia ficar bebaça e sai distribuindo conselhos via msn, acho que perdi uns 15 contatos que me bloquearam, mas eu nem tava bebum, foi esse filme ai. Comecei a ver como a gente se preocupa com bobagem, como se conforma com porcaria, como engole o que era pra cuspir na cara de quem te deu. Dormi me achando a mais nova revolucionária do planeta, hoje fui trabalhar e adivinhem o que eu fiz? Voltei a ser subordinada e to com uma família de sapos entalada na garganta. Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!
Formigas são umas grandissíssimas medrosas, que não sabem aproveitar a vida, por isso Deus fez elas tão pequenas.

Do filme:
"O importante não é ser forte, mas sentir-se forte."
"Eu vou parafrasear Thoreau aqui... mais que amor, que dinheiro, que fé, que fama, que equidade... dê-me a verdade."
"A felicidade só é real quando compartilhada."