Capítulo 1 – A CONGA.
Aqui em Pelotas, quase todo o ano, recebemos a visita de um parque de diversões, o Parque Tupy. Quando eu era pequena o parque tinha mais brinquedos do que tem atualmente e sempre que vinha passar uma temporada eu, minha irmã e meus primos tínhamos quase que uma obrigação de irmos nesse parque. Uma dessas idas ficou marcada para mim.Era fim de tarde, já tínhamos entrado em quase todos os brinquedos, faltavam somente os aterrorizantes, tipo o trem fantasma e a conga. A conga era uma espécie de teatrinho que a gente ficava em pé olhando uma mulher se transformar em macaca, dentro de um container muito, mas muito quente, que não combinava nem um pouco com o meu macacão jeans e minha camiseta emborrachada, listradinha de amarelo e branco (a mãe só me dava roupas amarelas e rosinhas que eram coisas de menininhas mimosas, tudo isso para esconder a peste que existia enrustida dentro de mim).O calor era insuportável, eu imaginava que se olhasse para baixo veria meu lindo tênis rosa-choque derretendo naquele container. A escuridão piorava o ambiente e depois de alguns minutos de sauna surge uma mulher vestida com um breguíssimo biquíni de oncinha e um cabelo com corte igual ao da Ioná Magalhães (não sei se já repararam, mas essa mulher trabalha na globo há uns 50 anos e nunca mudou o corte de cabelo). Minha irmã e minha prima, ambas mais velhas que eu, se acomodaram “bravamente” no fundo do trailer e me usaram de escudo para servir de proteção, com a desculpa que eu era mais baixa. Deveria ter umas 15 crianças assistindo o fantástico teatrinho.Luzes começam a piscar, a mulher começa a ficar peluda, a criançada começa uma gritaria ensurdecedora, eu, posicionada bem na frente do espetáculo, fico imaginando como aquilo tudo acontece, sinto a tensão da minha prima, que neste instante começa a me estrangular praticamente. De repente a mulher vira uma macaca, enorme, loooouuuuuuuuca (ui), começa a sacudir a jaula em que se encontrava presa, a tensão é total. De repente a luz pisca e a macaca esta na jaula, pisca de novo e a macaca se soltou...Já viram né, a gritaria foi total, todos correram para a rua, minha irmã e minha prima, acho eu, foram as primeiras a atravessar a porta e adivinhem quem a macaca pegou... EU, lógico, a desgraçada me sacudia em movimentos que lembravam um limpador de pára-brisas e naquela situação constrangedora, me sentindo o boneco do posto, tentei tirar a máscara da bicha, mas foi impossível. Depois de uns segundos de espancamento consegui me livrar e atravessar a porta do container, que naquele momento mais parecia a porta do céu, do outro lado estavam minha irmã e minha prima, com os olhos cheios d’água e com aquela cara de “ e agora? A mãe vai nos matar! Como vou explicar que uma macaca engoliu a Magda?”Fui abraçada como um paciente que sai vivo depois de uma cirurgia terrível ou um sobrevivente de uma catástrofe (na verdade era assim que eu me sentia).Para me acalmar me levaram para o trem fantasma (isso que eram minhas amigas hein), com a promessa que depois dali iríamos embora. Para minha surpresa, na segunda curva do trem... tchan tchan tchan tchan... Tinha um macaco enorme, que levantava os braços como se fosse nos agarrar, quando me deparei com ele a vontade de chorar me veio quase que de imediato, a gritaria foi tamanha que quando o carrinho parou, eu, em estado de choque, era a chacota da fila, formada basicamente por meus coleguinhas do recém assistido teatro. Eles sabiam, devido à demora em sair do container, aos gritos de pavor e a um escabelamento evidente, que minutos atrás a macaca tinha me feito de refém.
Por semanas sonhei com a macaca, tive pesadelos horríveis e juro que até hoje não tenho coragem de entrar novamente no teatrinho.